
“Eu vim porque quero saber se as coisas que eu estou pensando estão certas.”
Essa frase, dita por uma paciente em uma sessão de análise, reflete uma inquietação essencial da experiência humana: a busca por validação, compreensão e sentido. Mas o que significa estar “certo”? Como sabemos se nossos pensamentos correspondem à realidade? E mais ainda, de onde vem essa necessidade de confirmação?
A verdade é que aprendemos o mundo a partir do nosso espelho – tanto o interno quanto o externo. Desde o nascimento, construímos nossa identidade e nossa visão de realidade por meio das interações com os outros. O outro nos reflete de volta, e é através desse reflexo que moldamos quem somos. Os pais, os professores, os amigos, as experiências vividas, todos funcionam como espelhos que nos mostram diferentes versões de nós mesmos.
Na psicanálise, o analista não apenas reflete, mas também questiona, amplia e ressignifica. Diferente de um espelho comum, que apenas devolve a imagem que lhe é apresentada, o analista ajuda o paciente a enxergar além do que já conhece, a confrontar aspectos ainda inconscientes e a reinterpretar suas percepções. Nesse sentido, ele se torna um “outro” que possibilita o encontro do sujeito consigo mesmo de uma maneira nova.
Essa busca por validação pode se manifestar de diversas formas. Algumas pessoas chegam à terapia com certezas rígidas e inflexíveis; outras, mergulhadas em dúvidas constantes.
Em ambos os casos, o processo analítico permite deslocar o foco da questão “estou certo ou errado?” para algo mais profundo: “por que eu preciso dessa resposta?” e “o que está por trás dessa necessidade de validação?”
O espaço da psicanálise não é um tribunal que julga certo e errado, mas um campo onde os significados são construídos, reconstruídos e ampliados. Muitas vezes, o que buscamos não é uma resposta exata, mas um novo olhar sobre nós mesmos e sobre o que pensamos ser a verdade.
Palavras-chave:Psicanálise, reflexão, espelho, identidade, validação, autoconhecimento, terapia, relação com o outro.